A degradação dos recursos biológicos marítimos
• Durante muito tempo, as imensas riquezas biológicas dos extensos oceanos pareceram inesgotáveis, suscitando a ideia "tranquilizadora" de que os mesmos não viriam a colocar problemas de desequilíbrios e de delapidação dos seus recursos. Nessa perspectiva (diga-se já errada e perigosa) e porque havia livre acesso à exploração, todos se julgaram com direito de se servirem dessas riquezas ao sabor das suas necessidades ou das suas fantasias, sem se preocuparem com as consequências e sem prestarem contas a ninguém. Porém, a realidade depressa se mostrou bem diferente: os desequilíbrios, que se manifestam quer pela ruptura das cadeias biológicas marítimas quer pela sobreexploração, constituem factos que hoje ninguém ousa contestar.
A busca de espécies capazes de proporcionar lucros consideráveis desencadeou uma concorrência desenfreada, que se reflecte em destruições maciças, com a consequente diminuição das respectivas populações piscícolas e de outros animais marinhos. Como as regiões costeiras são as mais intensamente exploradas é nelas que se verifica uma drástica redução de algumas espécies, o que leva os pescadores a terem de explorar zonas cada vez mais longínquas.
Fig. 1- Pesca artesanal do atum.
• Pescando os peixes adultos de maneira moderada não se diminui a quantidade global do pescado, antes se favorece o seu aumento. Isto porque a alimentação de que dispõe uma população de peixes serve para manter vivos os já adultos e para crescimento dos ainda jovens. Daí resulta que uma certa diminuição periódica do número de peixes adultos favoreça o crescimento dos novos, o que traduz o interesse que a exploração racional dos recursos piscatórios para o ser humano.
Ora, sendo assim, os problemas graves surgem então exactamente com o carácter irracional de que a exploração desses recursos se reveste, principalmente através da utilização dos modernos processos de captura, que não têm em conta nem as espécies que interessa pescar e, o que é mais grave, nem o tamanho do pescado.
A pesca de arrasto, que não utiliza redes de malha suficientemente larga para deixar escapar os peixes (e outros animais marinhos) pequenos, é, sem dúvida, um processo altamente destruidor. Mas, mais destruidora ainda é a captura pelos processos ultramodernos, como é o caso da sucção (ou das barreiras eléctricas), pelos quais tudo é absorvido: pequenos e grandes, bons e maus e até simples ovos! É óbvio que ao serem capturadas as espécies pequenas que servem de alimento às maiores, rompe-se ou, pelo menos, perturbam-se as cadeias alimentares, com a consequente dificuldade para a sobre vivência das espécies predadoras.
Claro que os peixes, moluscos e crustáceos não são as únicas vítimas desta "colheita" abusiva. Outros grupos de animais marinhos vêem a sua população diminuir em proporções inquietantes, como são os casos da baleia e da foca, seriamente ameaçadas de extinção.
Fig. 2- A pesca de arrasto, quando nela são utilizadas redes de malhagem estreita, é altamente destruidora, já que por elas são capturadas também as espécies ainda jovens, de pequenas dimensões.
• Naturalmente que a delapidação dos recursos biológicos dos oceanos não se resume à captura incontrolada do pescado. Com efeito, a poluição das águas oceânicas conduz também à destruição da sua fauna. Produtos químicos, por vezes altamente tóxicos, são lançados continuamente nos oceanos quer directamente pelas indústrias costeiras e esgotos quer através das águas poluídas dos rios, provocando grandes destruições.
Os transportes marítimos, por sua vez, despejam sobre eles, intencional ou acidentalmente, numerosas matérias poluentes, nomeadamente petróleo. As constantes "marés negras" - petróleo a flutuar nas águas marinhas -, resultantes de acidentes com petroleiros, causam incalculáveis estragos na fauna oceânica, o mesmo acontecendo com os trabalhos de prospecção e perfuração petrolíferas em pleno mar.
Por último, é de referir o perigo que representa o lançamento para o fundo do mar de enormes recipientes contendo detritos radioactivos. Podendo vir a deteriorar-se, esses recipientes libertariam o seu perigoso conteúdo, sendo então fácil de calcular as monstruosas destruições que se verificariam na fauna oceânica. Claro que perigosa é também a contaminação das águas que circulam nas centrais nucleares (para arrefecimento), as quais, lançadas nos rios e no mar, causam (ou podem causar) incalculáveis prejuízos para a fauna aquática.
Racionalização da exploração dos recursos oceânicos
• É evidente que só a racionalização da actividade piscatória pode travar a perigosa delapidação dos recursos biológicos dos oceanos. As tentativas têm sido numerosas, sobretudo através de medidas legislativas quer a nível de cada país quer a nível internacional. Contudo, essa legislação, que todos deviam respeitar, é muitas vezes sub-repticiamente torneada ou simplesmente ignorada, dada a grande dificuldade de fiscalização, sobretudo nas águas internacionais.
• Entre as medidas regulamentares de maior relevância e com alguns resultados positivos, embora longe de serem inteiramente eficazes, destacam-se: A proibição ou o condicionamento do uso de processos de captura indiscriminada, como os que foram referidos a propósito da captura por processos de sucção (ou barreiras eléctricas); A obrigatoriedade do uso de redes suficientemente largas, para evitar a captura de espécies pequenas, em fase de crescimento, dedicando-se especial atenção às utilizadas na pesca de arrasto; A atribuição a cada país de contingentes para a captura de certas - espécies menos abundantes, mas de grande valor económico, como já acontece, por exemplo, com a pesca do bacalhau (na Terra Nova e na Gronelândia) e da baleia.
Fig. 3- A baleia, cuja captura tem como principal objectivo a extracção do óleo a partir duma espessa camada de gordura que possui sob a pele, constitui uma espécie que corre perigo de extinção se não for travada a sua sobreexploração.
Demarcação, nos países costeiros, de uma faixa marítima, na qual deve ser assegurada a racionalidade da exploração piscatória, embora em obediência a normas internacionais. Esta medida, de grande alcance, é desde há muito posta em prática, embora infelizmente tenha dado frequentemente origem a graves conflitos entre países; Regulamentação e rigorosa fiscalização do transporte de petróleo, principalmente no que respeita a normas de segurança e à limpeza dos tanques dos petroleiros; Obrigatoriedade de depuração das águas residuais da indústria e dos usos domésticos que afluem aos oceanos.
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